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Mayara Xavier Gonzalez Rachid

Construções cotidianas de uma escola democrática

Afinal, o que é democracia? E, mais do que isso, como aplicá-la na escola? Como se formam as escolas democráticas?


Apesar das diversas possibilidades de conceituação, a proposição de Robert Dahl caracteriza a democracia como sendo uma junção de condições necessárias para que os processos de escolha sejam condizentes ao máximo com a vontade das pessoas. Neste entendimento, está relacionada, portanto, com o respeito e com condições de garantia da liberdade.


No ambiente escolar a democracia pode surgir de diversas maneiras.


Como professora de Geografia, Sociologia e Filosofia, busco, além de ensinar a teoria, fazer com que estudantes possam vivenciá-la na prática. Assim, em uma tentativa de deixar a aula mais animada, aumentar a participação e engajamento e mostrar que a voz dos estudantes importa, comecei a praticar ao início das aulas a “chamada protesto”.


Esse tipo de mecanismo consiste em propor que, ao invés dos habituais “presente”, “aqui” ou “eu” que ouvimos após cada nome na chamada, as estudantes respondam falando sobre alguma coisa que mudariam na escola, seja no aspecto físico, nas metodologias ou o que julgarem pertinente. Não há necessidade de respostas super elaboradas, apenas a reflexão e respostas diretas. Mesmo sem essa necessidade, as respostas costumam ser uma aula de participação: muitos mudariam a estrutura física escolar, aumentariam o uso de TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação) nas aulas, trariam aulas mais dinâmicas e formas novas de aprendizagem. Também mudariam a relação com os esportes, os horários etc.


A finalidade pedagógica desse momento é criar um ambiente de reflexão e de confiança: pensar sobre seu próprio contexto é o passo inicial para uma maior participação, para entender o que é necessário e quais são as possibilidades. O que queremos de diferente dentro da escola? Dentro disso, o que é possível fazer? O que depende de nós? Responder essas questões dentro do ambiente escolar traz uma conscientização para a formação de cidadãos mais preocupados e integrados a suas comunidades e, consequentemente, com a democracia.


Dentro da questão sobre mudanças físicas, houve uma demanda especialmente das meninas para que houvesse mudanças no banheiro, deixando um ambiente mais agradável e com melhorias estruturais. Pensando nisso, fizemos uma “caixinha solidária” com absorventes, com a proposição de pegar quando precisar e deixar quando puder. É evidente que as mudanças apontadas pelas alunas são mudanças também de infraestrutura, mas pensar no que podemos fazer hoje, com as condições possíveis, faz parte do processo constitutivo, especialmente pensando em atender ao objetivo de mostrar que as demandas apresentadas são importantes e que há formas de melhorá-las.


Outra forma de participação democrática é a democracia de acesso ao conhecimento - o que deveria ser preceito básico dentro do ambiente escolar. Mas a verdade é que há um abismo social enorme, escancarado pelo período pandêmico, no qual mesmo com muita vontade de gestão, professoras e alunas, é inegável que condições materiais impactaram ainda mais nas diferenças entre escolas públicas e privadas.


Pensando nisso surgiu a iniciativa Escola Com Vida no Centro de Ensino Joviana Silva Farias, com a proposta de revitalizar o espaço escolar aos sábados, com aulões semelhantes às aulas de cursinhos voltados aos conteúdos cobrados no Enem, com uma forma mais descontraída e leve. Foi a forma possível que encontramos de atender ao conceito mais comumente atribuído à Escola Democrática, ou seja, um espaço pedagógico onde a própria comunidade escolar, formada por equipe gestora, professoras e professores, estudantes e família, participa ativamente nas decisões e nas atividades. Estudantes compareceram, foram organizadas atividades acadêmicas e de competições e o espaço escolar foi devidamente ocupado gerando sensação de pertencimento.


A princípio pensei que a forma mais efetiva (se é que é possível classificar desse jeito) de garantir um ambiente democrático era com processos institucionalizados, como com grêmios e semelhantes. Mas a verdade é que um ambiente escolar democrático está diretamente relacionado com as práticas adotadas no cotidiano dentro e fora de aula. Um ambiente democrático nasce na escuta das demandas, na possibilidade de fazer pequenas mudanças e de abraçar as possibilidades. O caminho para uma escola democrática pode ser bastante trabalhoso, mas é, sem dúvida nenhuma, um caminho bonito, necessário e possível, uma vez que dá voz.



Referências para a escrita desse texto:

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