Ter que começar o ano de forma remota foi um pouco frustrante, mesmo sabendo que seria o melhor cenário naquele momento. Eu nunca me imaginei dando aulas para o Ensino Médio, até porque não faz muito tempo que finalizei o meu. Mas logo no primeiro dia, tendo “contato” com meus novos alunos, conhecendo, mesmo que virtualmente, aqueles que iriam me acompanhar ao longo do ano, me trouxe uma sensação única. E eu sabia que não seria fácil esse novo desafio, que eu teria que ser resiliente e tentar sempre entender o outro lado da tela para conseguir superar diversas situações.
Confesso que em inúmeros momentos pensei em desistir e por vezes ainda penso. Ser professora é uma tarefa árdua. Mas é reconfortante receber mensagens de carinho e agradecimento dos meus alunos quando eles conseguem resolver algum exercício difícil, ou quando as expectativas deles são superadas em provas. Isso me dá forças e me faz lembrar do porquê que eu vim para cá. De tudo que abdiquei e ainda abdico pelo propósito que eu acredito.
Para Juan, aluno do primeiro ano do Ensino Médio do colégio Educa Mais Nascimento de Moraes, esse ano de ensino remoto, com novas descobertas e desafios, tem lhe trazido muitos questionamentos:
“Acho que não é novidade dizer que quando imaginei o meu ensino médio, pensei que seria um pouco diferente. Eu sinto que de certa forma meus planos foram até superados pela minha imaginação, pelo menos em cobrança pessoal. Vou explicar melhor: as dificuldades desse ano com ensino remoto foram diversas, muitas cobranças, atividades, trabalhos, responsabilidades, que com o tempo durante sua adolescência você tem que ter, mas parece que as coisas vieram tudo em dobro. Não sei se para nós, que somos adolescentes, os problemas se tornam exageradamente grandes, mas quando alguém te pede ajuda é porque ela realmente precisa nesses tempos.
Como líder de sala, o que eu não posso deixar de escutar são os meus colegas de turma, e são tantas vozes que você até se perde às vezes, sério. Já ouvi dos mais diversos problemas de alunos que não conseguem acompanhar as aulas, falta de um aparelho telefônico, falta de Internet, responsabilidades dentro de casa de pais que não entendem que tempo é necessário. Sempre tive e tentei buscar soluções para todos, não apenas como líder de sala, mas como alguém que queria ajudar e finalmente pudesse de alguma forma aliviar aquela dor e cansaço que todos sentiam.
Bom, para mim, acho que foi diferente, não sei. Eu tinha sim expectativas para esse ano, mas de certa forma elas foram superadas em todos os sentidos, encontrei nesse contexto remoto amizades que eu tenho certeza que se fosse presencial não existiriam pelos mais variados motivos. Posso citar muitas coisas boas que aprendi e vivi: as ligações nos finais de aula para falar sobre coisas aleatórias ou ficar apenas ouvindo músicas juntos, as ligações de madrugada para jogar ou para simplesmente ficar em silêncio por alguns instantes até alguém fazer alguma coisa bem infantil e todos rirem, a discussão dos sonhos de cada um do tipo: "Eu quero morar numa ilha", "Eu sonho em fazer direito e ser advogada para tirar meus amigos da cadeia quando precisar" e por aí vai. Outra coisa também, a aproximação com os professores que no Ensino Fundamental era inexistente e que de certa forma deixa mais lúdica a relação dentro e fora das aulas, já que saber que seu professor(a) gosta dos mesmos animes que você te dá uma brecha pra puxar papo, ou até mesmo quando eles contam umas fofocas da vida amorosa e os alunos ficam tentando dar dicas do que fazer. O primeiro encontro presencial também foi marcante, todos tentando se reconhecer através da voz com a máscara tampando o rosto.
Mas também surgiram diversos problemas nesse período. Eu tenho tantas dúvidas sobre mim e, principalmente, duvido de mim. Essa fase da vida já é complicada, mas quando o mundo ao seu redor está em colapso, fica mais difícil ainda. Tive que lidar com complicações familiares, deixar de fazer outras coisas por falta de tempo, dores de cabeça, coluna, esquecimento, vontade de vomitar e não conseguir estavam frequentes, e eu negava tudo dizendo que era sedentarismo enquanto na verdade estava passando por um processo de depreciação tão grande por não sair de casa, da própria cama, de acordar no outro dia pensando que as pessoas veriam meus erros e me julgariam e fossem ver meus acertos, isso me fazia pensar: "Eu não posso errar agora, tenho que acertar, se eu errar agora acabou tudo". Era uma cobrança pessoal tão grande que eu esquecia que não estava sozinho. E foi justamente aí que encontrei uma pessoa bem especial, na verdade ela estava sempre ali conversando comigo e quando eu precisei não foi diferente, essa pessoa me escutou e me deu soluções para os problemas irem se resolvendo aos poucos, fez piadinha com meus erros ao invés de me julgar por eles, me deu chance de melhorar toda vez que errei. Eu respeito muito essa pessoa, e da mesma forma que ela me ajudou, tento ajudar a todos ao máximo, claro, sabendo meus limites.
Eu tirei aprendizado no meio desse turbilhão inteiro de informações, me conheci como uma pessoa complicada, mas que dá o máximo de si pelos outros, tanto que até esquece de si próprio às vezes. Mesmo que isso não dure para sempre, o que eu sei que é verdade, prometo não esquecer de nada daqui, nem mesmo das dores, e num futuro próximo vou conquistar meu sonho de ter um trailer para viajar o mundo.”
Tentar conhecer o contexto em que nossos alunos vivem é uma parte importante da prática docente, bem como entender que cada aluno possui sua história e singularidade, e que não é possível lidar com todos da mesma forma. E eu venho aprendendo isso a cada dia. Poder fazer parte da construção dos sonhos dos alunos, ouvi-los, tutorá-los e estar junto com eles nesse processo de autoconhecimento, foram fundamentais para que eu me aproximasse e compreendesse o jeito de cada um. Sei que isso teve influência direta para que eu construísse um relacionamento de confiança com os alunos e assim resultando no meu desenvolvimento como professora.
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