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Malu Santos

Dia de dar rosto às vozes

O significado de voz no dicionário traz “som ou conjunto dos sons produzidos pelas vibrações das pregas vocais sob pressão do ar que percorre a laringe.” Mas a voz é muito além de sons. Voz é sentimento, voz é luta, força, resistência, emoção. E a junção de voz e rosto nos dá cara aos sentimentos, e nos traz verdades com expressões. Relações muito mais gostosas e claras com as junções dessas potências. Vozes e Rostos. Era exatamente essa visão que queria ter logo dos meus alunos.


Quem pensaria que em 2020 passaríamos por uma pandemia (para mim, isso só existia no livro de história - agora seremos nós o livro de história rsrsrs). E quem diria que em 2021 isso voltaria duas vezes pior, mesmo tendo a possibilidade de vacina? Minha esperança era tão grande, que isso só passou pela minha cabeça quando olhei as notícias de jornais e a média móvel não parava de aumentar.


Logo agora que as vozes que eu escutava no google meets, ou os contatos com foto de animes no whatsapp dos meus alunos virariam rostos. Uma reviravolta gigante no mundo! E das bem chatas!


Sou Malu, ensina 2021, isso quer dizer que realizei o Processo Seletivo do Ensina em 2020 e, depois do Intensivão no começo de 2021, me mudei para o polo em que hoje sou professora, Petrolina, em Pernambuco. Cidade que faz parte do Vale do São Francisco, o milagre da caatinga produtora de uvas.


Por causa da pandemia, foram 6 meses em aulas onlines, onde nos deparamos frente a uma chuva de desafios, mas que encontramos meios para melhorar essa experiência de aprendizagem dos nossos estudantes. No início do ano em nossa Escola Municipal Paulo Freire, graças ao nosso colega ensina 2020, Wellington, que trouxe para nós a demanda de precisarmos entender onde estavam os nossos alunos e por que não estavam assistindo aula, e utilizar do nosso tempo de projetos para isso, nos debruçamos no projeto de busca ativa dos estudantes, que consistia em buscar os alunos da escola para saber se eles tinham acesso ou não à internet em casa, para nós professores e professoras entendermos se precisávamos pensar em planos B para as aulas que havíamos planejado.


E a resposta foi que teríamos, sim, que pensar em planos B, e até planos C. A princípio as aulas estavam sendo onlines, então pesquisamos e descobrimos que apenas 50% dos estudantes tinham um bom acesso à internet, enquanto que os outros 50% obtinham 3G, não tinham internet e/ou não tinham acesso a um aparelho de celular, ou seja, era por isso que metade dessas crianças não estavam presentes nas aulas ou fazendo as atividades remotas. Com isso, construímos uma estratégia de material impresso para que todos tivessem a possibilidade de acessar a educação de alguma forma (não que todos tenham feito né, rsrs? Até porque foi muito mais do que a internet o que os desestimulou nesse tempo).


Além de saber quem tinha ou não tinha acesso à internet, o projeto de busca ativa possibilitou uma abertura para conversar com os estudantes e uma troca de vulnerabilidades se colocou ali disposta, criando um lugar de conexão muito único e importante demais para relação aluno/professor, principalmente na futura retomada do presencial. Importante porque uma relação de troca constrói a base de confiança, e quando você abre um espaço de afeto, é construída uma relação de lugar seguro, que impacta positivamente em suas relações do dia a dia da sala de aula, e faz-se um lugar mais confortável e seguro de se aprender.


6 meses depois, o dia de dar rosto a parte das vozes e imagens de whatsapp chegou. Com a vacinação em massa, e a diminuição de casos e mortes, deu-se início às aulas presenciais, ainda com direito de os alunos escolherem o remoto também.


Mesmo quando no modelo online, já foi possível mapear perfis dos estudantes, como o com mais facilidade em matemática, o que gosta de mangás, a engraçada, os tagarelos e os tímidos. Isso só se potencializou nas aulas presenciais, mesmo que de forma híbrida. No dia que entrei na sala de aula e ouvi as vozes vinculadas aos rostinhos (de máscara), alturas, adereços marcando personalidades e preferências, me veio um grande quentinho no coração, e uma felicidade gigante! Até que enfim aula no chão da escola. Até que enfim a interação entre meus alunos novamente. Até que enfim poder ver suas expressões faciais nas explicações tentando entender, entendendo tudo ou absolutamente nada (essa é a frase mais temida do professor). Até que enfim poder rir com eles e ver os olhinhos franzindo e ouvir as gargalhadas. Até que enfim poder identificar seus dias bons e ruins, suas manias, dificuldades e amores. - e não que seja fácil os dias ruins hein? Hahaha.


A pandemia escancarou a importância da escola, do professor e a necessidade de usufruir das novas metodologias para melhorar o interesse deles em sala de aula. A pandemia também escancarou a escola como direito essencial para todas as dimensões da vida de uma criança/adoslecente: amizades, construção de identidade, alimentação, acesso a conhecimento, noção de direitos, de convívio social, de cidadania. Cada dia é um dia na sala de aula, e que bom poder viver isso presencialmente com meus alunos, sendo aluna junto a eles todos os dias!


Viva a educação, e viva o direito de estar vivendo a educação!


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